Um dos voluntários da Abnegação anuncia os próximos nomes. Dois da Audácia, dois da Erudição, dois da Amizade, dois da Franqueza, e então:
— Da Abnegação: Susan Black e Beatrice Prior.
Levanto-me porque devo, mas se dependesse de mim, eu permaneceria sentada. Sinto como se tivesse uma bolha em meu peito que aumenta a cada segundo, ameaçando me despedaçar de dentro para fora. Sigo Susan até a saída. As pessoas pelas quais eu passo provavelmente não podem nos diferenciar. Usamos as mesmas roupas e temos o mesmo cabelo loiro. A única diferença é que Susan não deve estar se sentindo como se fosse vomitar e, pelo que posso dizer, suas mãos não tremem tanto ao ponto de ela precisar agarrar as mangas de sua camisa para firmá-las.
Esperando por nós do lado de fora, estava um corredor com dez salas. Elas são utilizadas apenas para os testes de aptidão, então eu nunca estive dentro de nenhuma delas antes. Diferente das outras salas da escola, elas são separadas não por vidro, mas por espelhos. Observo meu reflexo pálido e aterrorizado passando por uma das portas. Susan pisca nervosamente para mim quando entra na sala cinco e eu entro na sala seis, onde uma mulher da Audácia espera por mim.
Ela não tem o olhar severo dos jovens da Audácia que eu já vi. Seus olhos são pequenos, escuros e angulares, e ela usa um blazer preto – como os ternos masculinos – e jeans. Apenas quando ela se vira para fechar a porta que eu percebo uma tatuagem na parte de trás do seu pescoço, um falcão preto e branco com olhos vermelhos. Se eu não estivesse me sentindo como se meu coração tivesse migrado para minha garganta, teria perguntado o que significava. Deve significar alguma coisa.
Espelhos cobrem as paredes internas da sala. Posso ver meu reflexo de todos os ângulos: o tecido cinza obscurecendo o formato das minhas costas, meu pescoço longo, minhas mãos com juntas protuberantes, vermelhas por causa do fluxo do sangue. O teto branco brilhando com as luzes. No centro da sala está uma cadeira reclinável, como aquelas do dentista, com uma máquina próxima a ela. Parece um lugar onde coisas terríveis acontecem.
— Não se preocupe — a mulher diz. — Não irá doer.
Seu cabelo é preto e liso, mas na luz eu vejo seus fios grisalhos.
— Sente-se e fique confortável — ela diz. — Meu nome é Tori.
Desajeitadamente, sento na cadeira e reclino meu corpo, colocando minha cabeça no encosto. As luzes machucam meus olhos. Tori ocupa-se com a máquina a minha direita. Eu tento focar nela e não nos fios em suas mãos.
— Por que o falcão? — deixo escapar enquanto ela fixa os eletrodos na minha testa.
— Nunca conheci um integrante da Abnegação curioso antes — ela diz, levantando suas sobrancelhas para mim.
Eu estremeço e os pelos do meu braço se arrepiam. Minha curiosidade é um erro, uma traição dos valores da Abnegação.
Murmurando um pouco, ela pressiona outro eletrodo na minha testa e explica:
— Em algumas partes no mundo antigo, os falcões simbolizavam o Sol. Quando eu fiz esta tatuagem, imaginei que, se eu sempre o tivesse o sol comigo, nunca teria medo do escuro.
Tentei me impedir de fazer outras perguntas, mas não pude evitar.
— Você tem medo do escuro?
— Eu tinha medo do escuro — ela me corrige, pressionando o próximo eletrodo em sua própria testa e prendendo um fio a ele. Ela dá de ombros. — Agora me lembra da superação do medo.
Ela posiciona-se atrás de mim. Aperto os braços da cadeira tão forte que meus dedos ficam brancos. Ela puxa os fios em direção a ela, prendendo a mim, a ela e a máquina atrás dela. Então me entrega um frasco com algum líquido transparente.
— Beba isto — ela diz.
— O que é isso? — minha garganta fica seca. É difícil engolir. — O que vai acontecer?
— Não posso te dizer isso. Apenas confie em mim.
Tomo fôlego e bebo rapidamente todo o conteúdo do frasco. Meus olhos se fecham.
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