4.3.15

"DIVERGENTE - CAPÍTULO II"

QUANDO OS ABRO NOVAMENTE, UM INSTANTE SE PASSOU, MAS ESTOU EM OUTRO LUGAR. ESTOU NA LANCHONETE MAIS UMA VEZ, MAS TODAS AS MESAS ESTÃO VAZIAS E VEJO ATRAVÉS DAS PAREDES DE VIDRO QUE ESTÁ NEVANDO. NA MESA EM MINHA FRENTE ESTÃO DUAS CESTAS. EM UMA DELAS UM PEDAÇO GENEROSO DE QUEIJO, NA OUTRA, UMA FACA DO TAMANHO DO MEU ANTEBRAÇO.
ATRÁS DE MIM, A VOZ DE UMA MULHER DIZ:
— ESCOLHA.
— POR QUÊ?
— ESCOLHA — ELA REPETE.
EU OLHO SOBRE MEU OMBRO, MAS NINGUÉM ESTÁ LÁ. OLHO NOVAMENTE PARA AS CESTAS.
— O QUE IREI FAZER COM ESTAS COISAS?
— ESCOLHA! — ELA GRITA.
QUANDO ELA GRITA COMIGO, MEU MEDO DESAPARECE E TEIMOSIA TOMA SEU LUGAR. FAÇO UMA CARETA E CRUZO MEUS BRAÇOS.
— ENTÃO FAREMOS DO SEU JEITO — ELA DIZ.
AS CESTAS DESAPARECEM. OUÇO UMA PORTA ABRINDO E ME VIRO PARA VER QUEM É. EU VEJO NÃO UM “ALGUÉM”, MAS “ALGO”. UM CACHORRO COM NARIZ PONTUDO ESTÁ PARADO A ALGUNS METROS DE MIM. ELE ABAIXA-SE, SEUS LÁBIOS REPUXADOS PARA TRAZ EXPONDO SEUS DENTES BRANCOS, UM ROSNADO CRESCE DO FUNDO DE SUA GARGANTA, E EU VEJO PORQUE O QUEIJO SERIA ÚTIL. OU A FACA. MAS É TARDE DEMAIS.
PENSO EM CORRER, MAS O CACHORRO SERIA MAIS RÁPIDO DO QUE EU. NÃO POSSO DERRUBÁ-LO TAMBÉM. MINHA MENTE PONDERA. TENHO QUE TOMAR UMA DECISÃO. SE EU PUDESSE PULAR SOBRE UMA DAS MESAS E USÁ-LA COMO ESCUDO – NÃO, EU SOU MUITO BAIXA PARA PULAR SOBRE AS MESAS, E NÃO FORTE O BASTANTE PARA LEVANTAR UMA DELAS.
O CÃO ROSNA E EU QUASE POSSO SENTIR O SOM REVERBERANDO EM MEUS OSSOS.
MEU LIVRO DE BIOLOGIA DIZ QUE CÃES PODEM FAREJAR O MEDO DEVIDO A UMA SUBSTÂNCIA QUÍMICA SECRETADA PELAS GLÂNDULAS HUMANAS EM ESTADO DE COAÇÃO, A MESMA SUBSTÂNCIA LIBERADA PELA PRESA DE UM CÃO. FAREJAR O MEDO LEVA-OS A ATACAR. O CACHORRO AVANÇA EM MINHA DIREÇÃO, SUAS UNHAS ARRANHANDO O CHÃO.
NÃO POSSO CORRER. NÃO POSSO LUTAR. AO INVÉS DISSO, RESPIRO O BAFO DO CACHORRO E TENTO NÃO IMAGINAR O QUE ELE ACABOU DE COMER. NÃO TEM NEM UM POUCO DE BRANCO EM SEUS OLHOS, APENAS UM BRILHO NEGRO.
O QUE MAIS EU SEI SOBRE CACHORROS? EU NÃO DEVERIA OLHÁ-LO NOS OLHOS. ISSO É UM SINAL DE AGRESSÃO. LEMBRO-ME DE PEDIR UM CACHORRINHO DE ESTIMAÇÃO AO MEU PAI, QUANDO ERA PEQUENA, E AGORA, ENCARANDO O CHÃO EM FRENTE ÀS IMENSAS PATAS DO CACHORRO, NÃO CONSIGO LEMBRAR POR QUE. ELE SE APROXIMA, AINDA ROSNANDO. SE ENCARÁ-LO É UM SINAL DE AGRESSÃO, QUAL O SINAL DE SUBMISSÃO?
MINHA RESPIRAÇÃO É ALTA, MAS CONSTANTE. FICO DE JOELHOS. A ÚLTIMA COISA QUE EU QUERO É DEITAR NO CHÃO EM FRENTE AO CACHORRO – FAZENDO COM QUE SEUS DENTES ESTEJAM BEM À ALTURA DO MEU ROSTO – MAS É A MELHOR OPÇÃO QUE EU TENHO. ESTICO MINHAS PERNAS PARA TRÁS E DEITO EM MEUS COTOVELOS. O CACHORRO CAMINHA CADA VEZ MAIS PRÓXIMO, ATÉ QUE EU SINTO SEU HÁLITO QUENTE EM MEU ROSTO. MEUS BRAÇOS TREMEM.
ELE LATE EM MEU OUVIDO, E EU PRENDO MEUS DENTES PARA ME IMPEDIR DE GRITAR.
ALGUMA COISA ÁSPERA E MOLHADA TOCA MINHA BOCHECHA. O ROSNADO DO CACHORRO PARA, E QUANDO EU LEVANTO MINHA CABEÇA PARA OLHAR, ELE ESTÁ OFEGANTE. ELE LAMBE MEU ROSTO. EU FRANZO AS SOBRANCELHAS E SENTO SOBRE MEUS JOELHOS. O CACHORRO APOIA AS PATAS NO MEU COLO E LAMBE MEU QUEIXO. EU TREMO LIMPANDO A BABA DA MINHA PELE E SORRIO.
— VOCÊ NÃO É UMA BESTA FEROZ, É?
LEVANTO DEVAGAR PARA NÃO ASSUSTÁ-LO, MAS ELE PARECE UM ANIMAL DIFERENTE DAQUELE QUE ME ENCARAVA SEGUNDOS ATRÁS. ESTICO MINHA MÃO CUIDADOSAMENTE, CASO PRECISE PUXÁ-LA NOVAMENTE. O CACHORRO BALANÇA MINHA MÃO COM SUA CABEÇA. E DE REPENTE ESTOU FELIZ POR NÃO TER ESCOLHIDO A FACA.
EU PISCO, E QUANDO MEUS OLHOS SE ABREM, UMA CRIANÇA ESTÁ DE PÉ DO OUTRO LADO DA SALA USANDO UM VESTIDO BRANCO. ELA ESTICA AS DUAS MÃOS E GRITA “CACHORRINHO!”

QUANDO ELA CORRE EM DIREÇÃO AO CACHORRO AO MEU LADO, ABRO A BOCA PARA ALERTÁ-LA, MAS É TARDE DEMAIS. O CACHORRO SE VIRA. AO INVÉS DE GRUNHIR, ELE LATE E ROSNA, FLEXIONANDO SEUS MÚSCULOS. PRESTES A ATACAR. EU NÃO PENSO, APENAS PULO. ARREMESSO MEU CORPO SOBRE O CÃO, AGARRANDO SEU PESCOÇO COM MEUS BRAÇOS.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

A REZADEIRA PT I

Suas pernas foram feitas pra correr, neguim, então vai Degola o estirante, embola na rabiola e traz Seus olhos foram feitos pra enxerga...