23.2.15

DIVERGENTE - CAPÍTULO I

Nossas aulas hoje durarão metade do tempo para que assistamos todas elas antes do teste de aptidão, que ocorrerá depois do almoço. Meu coração já está acelerado, só de pensar.
— Você não está nem um pouco preocupado com o que ele pode revelar? — eu pergunto a Caleb.
Paramos na bifurcação do corredor, de onde ele seguirá em uma direção, para a aula de Matemática Avançada, e eu em outra, para a aula de História das Facções.
Ele levanta uma sobrancelha para mim.
— Você está?
Poderia dizer-lhe que tenho me preocupado há semanas a respeito do que o teste de aptidão irá me revelar: Abnegação, Franqueza, Erudição, Amizade, ou Audácia?
No entanto, apenas sorrio e digo:
— Não muito.
Ele sorri de volta.
— Bem... Tenha um bom dia.
Sigo para a aula de História das Facções, mordendo o meu lábio inferior. Ele não respondeu a minha pergunta.
Os corredores são estreitos, embora a luz que entra pelas janelas crie a ilusão de espaço. São uns dos poucos lugares em que pessoas da nossa idade e de facções diferentes se misturam. Hoje, os estudantes apresentam uma energia diferente, uma sensação de último dia.
Uma menina de cabelos longos e encaracolados grita “ei!” perto do meu ouvido, acenando para um amigo distante. Uma manga de jaqueta esbarra na minha cara. De repente, um garoto da Erudição vestindo um casaco azul me empurra. Perco o equilíbrio e caio no chão com força.
— Sai da frente, Careta — ele diz rispidamente, e segue pelo corredor.
Meu rosto esquenta. Levanto-me e me ajeito. Algumas pessoas pararam quando eu caí, mas nenhuma ofereceu ajuda. Seus olhares apenas me acompanham até o final do corredor. Esse tipo de coisa tem acontecido com outros integrantes da minha facção há meses – os membros da Erudição têm divulgado relatórios antagônicos em relação à Abnegação, e isso tem afetado nosso relacionamento na escola. As roupas cinza, o corte de cabelo simples e o comportamento modesto da nossa facção deveriam me ajudar a esquecer de mim mesma, e fazer com que as outras pessoas se esquecessem de mim também. Mas agora eles fazem de mim um alvo.
Eu paro em frente a uma janela da Ala E, e espero a chegada dos integrantes da Audácia. Faço isso todas as manhãs. Às 7:25 em ponto, eles provam sua coragem ao pular de um trem em movimento.
Meu pai chama os integrantes da Audácia de “endiabrados”. Eles têm piercings, tatuagens, e usam roupas escuras. Sua principal função é proteger a grade que circunda nossa cidade. Proteger de que, eu não sei.
Eles deveriam me deixar chocada. Eu deveria me perguntar o que a coragem – que é a virtude que eles mais valorizam – tem a ver com um anel de metal pendurado no nariz. No entanto, eu os sigo com os olhos por onde quer que eles andem.
O apito do trem toca alto e seu som ressoa em meu peito. O farol do trem pisca enquanto a composição se desloca violentamente e passa em frente à escola, com suas rodas rangendo contra os trilhos de metal. Ao passarem os últimos vagões, uma quantidade enorme de jovens com roupas escuras se atira do trem em movimento, alguns caindo e rolando no chão, outros pisando em falso rapidamente antes de recobrarem o equilíbrio. Um dos garotos coloca o braço em volta dos ombros de uma menina, rindo.

Assisti-los é uma atividade vã. Eu desvio meu olhar da janela e atravesso a multidão até a sala de História das Facções.









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